sábado, 12 de fevereiro de 2011

Nikolai Enamorado

Nenhum júri iria condenar Nikolai conscientemente: com os olhos vidrados, fumava seu cachimbo de magritte, sentado na cadeira-do-papai e olhando com ódio o corpo dormente de Amanda. A noite tinha sido infernal. Tinha as costas machucadas e ela tinha marcas de dedos em torno do pescoço. E Nikolai sentiu a pele do braço esquerdo desgrudar: as veias de seu pulso incharam, brotando em uma sensação de urgência que se estendeu do cotovelo até o punho: uma chaga se abriu na palma de sua mão, e ele sorriu pensando: ah, mas os filhos da puta me pegaram pra cristo! e começou a acariciar a pele mole pra frente e pra trás, até a dor se espalhar por todo o seu corpo e a câimbra invadir suas pernas. O braço teve espasmos, a chaga começou a soltar um líquido transparente de cheiro agridoce e Nikolai sentiu por alguns instantes um nirvana de ansiedade que nunca ousou imaginar; enquanto sentia aquele eretismo, o transparente se tornou vermelho e pedaços de carne foram espirrados pela chaga, alargando-a, e sentiu os membros vacilando e uma dor insuportável o dominou e os ossos começaram a se partir, mas não conseguia gritar e apenas soltava gemidos curtos. Uma enorme poça de sémem e sangue e miúdos se estendeu sob os pés descalços de Nikolai, que ficava mais magro e sorria pálido enquanto a chaga fluía como um rio. Na manhã seguinte: Amanda acorda com uma enorme dor de cabeça. Mas só o que restava de Nikolai era um crânio de macaco de cimento largado em meio à terrível poça do que um dia tinha sido uma existência brilhante.

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